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É a fotografia que cabe na legenda ou a legenda que cabe na fotografia?




Por Ana Bia


Uma dúvida que desengavetou através da minha cabeça é sobre quem veste quem: seria a fotografia a vestimenta do texto ou o texto que veste a fotografia? Só sei que o que tenta se ajustar é porque, de certa forma, há algo que se encaixe. Procurei imagens para relacionar a algum escrito como quem tira todas as roupas do guarda-roupa para começar o ritual de arrumar: escrever é mesmo um rito, há quem tenha sanidade para escrever sem precisar contar com o seu próprio íntimo. Depois de atravessar repetidas vezes a tela do smartphone, acho essa imagem e penso na palavra: casual.


Calma! Sei que não haveria razões para esperar que as pessoas iriam se deparar com uma lira mirabolante com formato de lua e pensar: nossa, quem não tem uma lira dessas em casa?! Contudo, a minha parte favorita dessa imagem não é a lira ou a silhueta do corpo físico que se estremece acrobaticamente, mas as manchas vermelhas na pele da bunda que divididamente é chamada de "nádegas". Essa concentração de sangue que transparece sobre a pele me remetem ao contato. Naquele atrito de pele sobre objeto que tem dentro ou fora de casa, nos hematomas que ficam após permanecer por horas com uma perna em cima da outra, naquele freio que a própria pele se esmagando acusa: como pode não ser casa se me gera claustrofobia e, simultaneamente, aconchego?


Por falar em arte, a arte talvez seja uma forma de abstrair o sufoco que revela a solidão, como transparecer o alívio de se relacionar consigo mesmo: no toque, no pensamento, no sentimento. De cabeça pra baixo ou de cabeça pra cima, as coisas íntimas são os detalhes nos quais se encaixa a permanência: amor próprio também é convivência. Permaneça.


 

Ana Bia, 24 anos, taurina atípica com os pés fora do chão, praticante de pole dance e acrobacias aéreas, instrutora de pole dance e flexibilidade, e futura instrutora de yoga. Vegana, louca das plantas, bruxa, bailarina frustrada, amante de livros e gatos, apaixonada por cores no corpo, na mente, no quarto, no prato, no terreno, em si.

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