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A tal da transitoriedade




Por Taís Sales


Esse texto não é sobre maternidade. É sobre fluxo, sobre transformações. Você já deve ter ouvido muitas vezes aquele famoso mantra: "tudo passa", não é mesmo? Pois bem, na transitoriedade da vida, tudo passa sim, o que as vezes demora a passar é a inquietude de achar que apenas conosco, ou apenas aquele momento não é passageiro. 


Esse texto não é sobre maternidade, mas poderia ser. Quer momento mais inquieto que o tornar-se abrigo de outro ser? Que o tornar-se mãe? E aqui não contemplo os pais primeiro porque não tenho propriedade para falar como tal, segundo porque me arrisco dizer que sua luta contra a percepção do tempo começa de forma tardia, ou talvez nem comece. 


Mas voltando para as mães: tudo começa na descoberta da gestação. É uma mistura de desespero com euforia, uma explosão de dúvidas com várias pitadas de sentimentos contraditórios. Logo fica claro que o corpo não pertence mais a mulher, afinal ele está ocupado se adaptando para gerar outra vida, e toda sua energia está voltada para isso. Como resultado, é notória a mudança de ritmo. E não adianta querer nadar contra a corrente, seu corpo é um mar revolto com vontade própria, e a única coisa que resta é relaxar e se deixar levar. Em seguida vem o medo de não recuperar o corpo - e a vida - de volta. É um medo irracional causado pela tal falta da percepção de transitoriedade, que faz com que o momento vigente pareça eterno. A gestação parece ser tudo o que existe e mesmo racionalmente consciente que ela vai terminar, o pensamento - e sensação - irracional de que a vida se resume àquele momento insiste em permanecer. O próximo passo, como já esperado, é o da frustração. Ver seus amigos, vizinhos, conhecidos sendo promovidos, se destacando profissionalmente, viajando, cuidando de si... isso causa uma gigantesca frustração. Seu tempo não é mais seu, seu cuidado não é mais apenas de si e para si.


Com o nascimento do bebê, aquele ser único, especial e frágil que demanda assistência 24 horas, essa falta de percepção da transitoriedade permanece e se manifesta mais forte do que nunca. De fato a essa altura já podemos ver sinais da existência de fases, mas o cansaço, a privação de sono e a falta de liberdade nos impede de enxergar. No puerpério toda a salada de sentimentos se intensifica, e o corpo ainda se readaptando não ajuda a clarear os pensamentos. 


Com o tempo notamos que existem fases e que elas passam. Certamente nada volta a ser como antes, mas o (re)nascer de uma nova mulher está diretamente relacionado com o nascer de um novo momento no tempo. Aos poucos aquele medo de nunca mais conseguir fazer algo que costumava fazer ou de viver para sempre no cárcere semi privado da maternidade dão lugar a tal percepção da transitoriedade. Uma nova mulher surge a cada fase de seu bebê, assim como uma nova mulher surge a cada fase da vida. Afinal, o que é a vida senão um eterno fluxo (como já dizia nosso famoso Heráclito)?


 

Graduada em Filosofia, trabalha com educação há alguns anos e adora lecionar. Sempre amou as artes corporais, principalmente a dança e a ginástica, e percorreu por algumas atividades, como Jazz, Circo, Lira, Dança de Salão e Zouk. Conheceu o Pole Dance em 2014 e em 2015 se capacitou e começou a dar aulas. Participou de diversos campeonatos de Pole Dance no Brasil percorrendo pelas categorias amadora, semi profissional e profissional, respectivamente. 


Hoje a Taís é sócia e instrutora do Polessence (fundado em 2017) e instrutora do Pin Up Pole Studio (desde 2016).


Taís busca a variedade de estilos em suas aulas, equilibrando técnicas de força e flexibilidade com a dança, que é sua maior paixão. Apesar de ter o pole sensual como estilo preferido, gosta de explorar as variadas vertentes do pole, sempre trabalhando a fluidez e estimulando a musicalidade. Defende que é preciso criar alternativas didáticas para ajudar as alunas e alunos a se sentirem bem e realizados com essa atividade sensacional que proporciona autoestima, confiança, empoderamento e liberdade.

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