
Por Gabriel Calegaro
Depois de toda repercussão do meu post sobre as origens do pole e de um pequeno alvoroço causado mesmo, decidi que gostaria de explicar alguns tópicos sobre o tema e o conteúdo transmitido.
Gostaria de começar dizendo que o fato do Pole ter sido difundido por strippers, não torna ninguém que pratica um/uma stripper. Por quê? Por causa do contexto e motivação de cada praticante.
Ao falar da origem do Pole, estava me referindo ao Pole como uma manifestação cultural coletiva que tem, de fato, uma origem documentada (né Fawnia Mondey?) e um contexto próprio na sua origem.
Vou fazer uma analogia bem chula com o futebol. O futebol tem a sua origem datada no ano de 1863, em terras britânicas. Atualmente é um dos esportes mais difundidos do mundo e, pasmem, seus praticantes não são todos britânicos ou muito menos foram culturalizados pela cultura britânica, por uma razão muito simples, o contexto que esta manifestação cultural foi sendo inserida nos diversos povos do mundo.
O mesmo acontece com o Pole, sua difusão nos tempos atuais se deu através de strippers estadunidenses, inseridas em um contexto totalmente voltado para o entretenimento adulto, usado por estas mulheres enquanto profissionais deste ramo. O que motivou estas mulheres a levarem o Pole para fora das boates ainda é um mistério (que pretendo desvendar em uma pesquisa futura). A partir dos anos 90, o Pole já estava fora das boates, tendo a distribuição de videocursos e a inserção nas escolas de dança e academias.
A partir daí, o pole vai se difundir e se tornar uma manifestação cultural que não é única destas strippers, e passa a ser praticado por todos os tipos de pessoas: homens e mulheres das mais diversas profissões, formações, idades e nacionalidades. O uso profissional não fica mais restrito ao entretenimento adulto e passa a ser usado por profissionais da dança, educação física e artes em geral. A criação de estúdios e formação de instrutores especializados na prática toma uma posição no uso profissional do pole, junto com as strippers. Esse ramo do entretenimento adulto não foi adormecido com a sua difusão para o mundo dos meros mortais.
Então, você, praticante de Pole Art, Exotic, Flow, Glamour, Sport e tantas outras vertentes, não se preocupe, a origem desta atividade artística/desportiva tão linda não te torna nada além de um/uma praticante. Suas motivações e contextos pessoais não vão anular a origem histórica de qualquer manifestação cultural, apenas reforçam a diversidade de mesma.
A profissão de stripper é digna como qualquer outra e não podemos simplesmente nos apropriarmos daquilo que jugalmos como bom ou socialmente aceitável e apagar as memórias das mesmas por mero preconceito
Respeitar e reconher a overtone de algo é um dever de quem dá sequência a algo em contextos diferentes. Seja você apenas praticante ou não, devemos respeitar as strippers e a origem do pole da mesma forma que cobramos respeito para a nossa vertente.
Gabriel Calegaro, cientista social, professor de sociologia, praticante de pole e futuro epidemiologista. Apreciador da antropologia, tem a ciência como vocação e profissão. Inicou a prática de pole em janeiro de 2017 e desde então também tem o Pole como seu objeto de pesquisa, unindo os conhecimentos científicos de sua área ao universo do pole.