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Criar conteúdo e fazer arte





Por Alice Suzart

Criação de conteúdo para o Instagram não é tão importante o quanto aprender - até aqui, nenhuma polêmica. Nossa prática não precisa estar na internet para existir. Ponto.


Se eu estou convencida disso de verdade, porque existir na internet, e, especificamente no Instagram, é para mim uma fonte tão grande de preocupação (e por vezes de ansiedade)?


Um treino que chega ao fim sem um bom vídeo pode virar um motivo de frustração. Uma aula que não rende uma foto bonita em uma pose diferente parece incompleta...


Nem sempre foi assim. Em 2013, quando eu comecei a fazer pole, eu ia para as aulas, aprendia giros básicos, me alongava e treinava coreografias sem tirar o celular da mochila. Eu não tinha Instagram e pole era só um hobbie que eu praticava sem nenhuma ambição.

Passaram-se anos, competições e cursos — pole dance deixou de ser só um passatempo e, pouco tempo depois, o Instagram também. Hoje eu não faço menos do que 4 publicações por semana, escolho a dedo as hashtags e a tal da criação de conteúdo se tornou parte do meu trabalho.


Por um lado, é evidente que quem vive de pole procura visibilidade, ter alcance e gerar engajamento, porque essa é a nossa forma mais eficaz de conquistar alunas. Por outro, a legenda "eu não ia postar esse vídeo porque não achei muito bom, mas" é cada vez mais frequente... e talvez isso seja sintomático.


Temos que alimentar a rede o tempo inteiro e ainda temos que ser impecáveis? Essa demanda é real —do nosso mercado, criada pelo nosso público consumidor — ou é auto imposta?


Quem se profissionaliza no pole entra em um ciclo de autoaperfeiçoamento que não tem fim — e isso não tem que ser tóxico. Podemos buscar a excelência e o desenvolvimento de um estilo pessoal e sermos gentis e cuidadosas conosco. Não tenho a intenção de me aprofundar no mérito do perfeccionismo nem na cultura de perfeição nos feeds — quero saber, em tempos de pandemia, como podemos nutrir uma vida criativa que não esteja à serviço das redes sociais.


Reflito sobre qual tem sido a minha prioridade e não fico satisfeita em me dar conta que o tempo que eu invisto nesta rede social é superior ao meu tempo de treino e estudo.


Além disso, como geradora e consumidora de conteúdo, me incomoda a maneira com que eu desenvolvi uma relação descartável com imagens que deveriam ser fonte de inspiração — preciso de muito, de cada vez mais, produzir, comentar pra ajudar a colega, compartilhar... mas quantos são os vídeos que eu salvei no intuito de admirar e me instruir que ficaram esquecidos, amontoados, sem atenção?


Nossa criação artística não pode ficar em função da produção para uma plataforma que sequer dá valor ao nosso trabalho. Não pode ficar à mercê da arbitrariedade do algoritmo, de likes. Tenho muitas perguntas e várias queixas, mas quase nenhuma resposta. Esse texto é um convite — vamos pensar de que maneira nossa relação com o Instagram pode ser diferente?


 

Alice é soteropolitana, instrutora de pole dance e sócia do Flutuarte Pole Estúdio. Apaixonada pela sala de aula e pelos palcos, ensina desde 2015 e participou do Pole TheatreBrazil (2020), Festival Oxente de Pole Dance (2019), Be Sexy Aracaju (2019), Aerodance Show (2018), Miss Pole Glamour Chile (2016) e Campeonato Brasileiro de Pole Dance (2014). 

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